Jornal de Brasília

Data: 23 de outubro de 2002

 

Colesterol alto provoca doença cardíaca de forma silenciosa

 

Doenças cardiovasculares matam 300 mil pessoas por ano no Brasil, sendo a primeira causa de morte depois dos acidentes de trânsito e da violência urbana. O alto índice de colesterol no sangue é um inimigo silencioso que muito contribui para essa triste estatística.

O Brasil ainda não tem uma pesquisa que apresente o percentual da população que tem índice acima do aceitável (que é de 200 miligramas por decilitro de sangue), mas uma campanha, realizada entre junho e agosto deste ano, com 80 mil pessoas com fatores de risco detectou que 40% deles estavam acima do índice. O maior risco para quem tem colesterol alto é sofrer um enfarte.

A pesquisa foi realizada pela SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) e ouviu pessoas que apresentavam os seguintes fatores de risco: vida sedentária, pressão arterial elevada, fumantes, obesos ou pessoas com histórico familiar de doenças no coração.

Segundo o presidente da Fundação do Coração, da SBC, Celso Amodeo, o maior perigo é que as pessoas com colesterol alto t6em sintomas e, sem fazer exames periódicos, muitas só ficam sabendo do problema depois que sofrem o enfarte.

A hipertensão, popularmente conhecida como pressão alta, também é um fator de risco para o enfarte e que muitos desconhecem sofrer. Segundo Amodeo, 30 milhões de brasileiros têm o problema, metade deles sabe disso e, desse universo, cerca de 7 milhões fazem tratamento. Tanto para o colesterol quanto para a pressão alta, o tratamento consiste num programa de medidas que engloba a reeducação alimentar, exercícios físicos e, se for o caso, medicamentos.

A prevenção para esses males tem muito a ver com uma alimentação saudável, que deve ser estimada desde a infância. Amodeo critica o estímulo à alimentação inadequada que, segundo ele, existe na maioria das escolas.

 

Carne vermelha não é o único vilão

Alimentação saudável não significa excluir carne vermelha do cardápio. Amodeo sugere comê-la de duas a três vezes por semana. "De preferência, alternado com a carne branca", afirma.

O cardiologista Maurício Wajngarten, que chefia a Equipe Clínica de Cardiogeriatria do Incor (São Paulo), também alerta para a necessidade de uma alimentação balanceada desde a infância. "Também é necessário fazer a dosagem de colesterol desde os 20 anos", continua. A carne não é a única vilã. Wajngarten diz que maionese, queijos gordos, iogurtes e chocolate também contribuem para elevação do colesterol.

A má alimentação e a vida sedentária estão reduzindo a faixa etária dos enfartados, segundo Amodeo. "Nas unidades de tratamento já é comum encontrarmos jovens de 30, 32 anos enfartados, o que antigamente não víamos", diz. Wajngarten ressalta que entre esses jovens enfartados estão muitas mulheres. "Elas estão assumindo muitas coisas ao mesmo tempo, o trabalho, a casa, os filhos e, ainda por cima, fumem. É muito estresse", avalia.

Para evitar que os dois males, a hipertensão e o colesterol alto a levem a consequências graves. Emira Antacli, 56 anos, faz dieta e toma medicamentos. Ela estava com 300 miligramas por decilitro de sangue. Reduziu, mas ainda está com 240. "Consumo alimentos com pouca gordura e açúcar, porque sei o risco que corro", afirma.

Ela acha que o fator emocional pode estar dificultando a queda do colesterol. "O fator emocional não tem relação com o colesterol alto", explica o cardiologista Wajngarten.