A Tarde

Data: 01 de novembro de 2002

 

Médicos alertam para riscos das caminhadas

 

O que seria uma simples caminhada de rotina, transformou-se nos momentos finais da vida do advogado de 46 anos, que caiu, subitamente, no calçadão da orla marítima - trecho da Praia de Armação - e morrei horas depois em um hospital, sábado, 26 de outubro. A família, que não quer falar sobre o assunto, apenas informou que ele se cuidava, fazia exames periódicos e que os médicos deram como causa da morte um edema pulmonar por insuficiência cardíaca.

O fato desperta o debate sobre o perigo de começar atividades esportivas, por mais simples que pareçam, sem uma consulta prévia a um médico e também sobre a morte súbita. Com sua experiência da cardiologista da Seleção Brasileira de Futebol que disputou a Copa do Mundo de 1982, na Espanha, - o time criado por Telê Santana que encantou a torcida, mas saiu precocemente da competição ao perder para a Itália de Paolo rossi - o médico Ricardo Vivacqua afirma que toda pessoa acima dos 30 anos deve se submeter a um exame cardiológico, fazendo teste ergométrico e ecocardiografia, antes de se sentir um atleta.

Ricardo Vivacqua enfatiza que não há desculpa de que esses exames custam caro. "Todas as capitais oferecem, no serviço público de saúde, esses exames gratuitamente", afirma. Ele é um dos prestigiados profissionais que participam do 9º Congresso Nacional do Departamento de Ergometria e Reabilitação Cardiovascular da Sociedade Brasileira da Cardiologia; do 3º Simpósio e Cardiologia do Esporte, Exercício e Educação Física em Cardiologia e do 1º Simpósio Nacional de Cardiologia Nuclear, que estão sendo realizados até amanhã, num hotel da cidade.

Na opinião de Ricardo Vivacqua, o encontro de cardiologistas de todo país é o maior que ele já participou nos últimos 20 anos. Ele destaca que novos estudos mudaram a forma de tratamento do paciente cardiopata. Se antes o paciente ficava descansando em casa, agora é sugerido que pratique - devidamente monitorado - algumas atividades físicas, como caminhas leves e levantamento de pequenos pesos, pelo menos três vezes por semana. O paciente melhora o fôlego, a massa muscular e, principalmente, a qualidade de vida. Alguns deles se emocional por voltar a ter condições de, por exemplo, pegar o neto no colo. Algo simples, mas relevante para o doente.

O ex-cardiologista da Seleção Brasileira não se arrisca a falar de uma possível causa da morte do advogado que caminhava na Praia da Armação, as reafirma que é fundamental passar por exames médicos antes de mudar sua rotina de vida ou quando sentir algum sintoma diferente.

Nova Avaliação

Uma novidade, hoje na programação do Congresso, será o teste de 4 segundos. Trata-se de uma nova forma de avaliação física das pessoas. O médico Cláudio Gil Soares de Araújo, especialista em medicina do exercício, vai ministrar o curso. Ele explica que o teste consiste em colocar a pessoa - ligada ao cardiógrafo - fazendo exercício em uma esteira, apenas movimentando as pernas. Ela deve prender o ar por 12 segundos e, entre o 4º e o 8º segundo, pedalar. Nesses quatro segundos o cardiograma aponta como está o freio e o acelerador do coração.

Para quem estive em situação normal, na faixa dos 46 anos, como o advogado que morreu sábado, o coração se acelera em cerca 30% em relação ao repouso. Ou seja, salta de 70 batidas por minuto até 100. Quem não estiver tão bem, o batimento ficará aquém desse número. Nos chamados esportes intermitentes, como o tênis e o vôlei de praia, saem-se melhor os atletas com coração respondendo rapidamente ao esforço de correr e frear. O teste também é importante ara detectar as causas de quem apresenta palpitações.

Os cerca de 700 especialistas que estão participando dos eventos consideram ainda mais importante o que estão debatendo devido ao momento de expectativa para o verão, quando as academias de ginástica começam a ficar lotadas e os calçadões a ficarem mais movimentados. "Este é o maior evento de reabilitação já realizado no país, abordando temas de grande importância para a educação continuada de médicos das regiões Norte e Nordeste, que precisam se deslocar para outros centros em busca de especialização", afirma o cardiologista Maurício Nunes, presidente do encontro.