Folha de S.Paulo

Data: 04 de abril de 2003

Carta de ministro ratifica GP Brasil sem lei do cigarro Ferrari e BAR decidem voltar a usar marcas após comunicado

Esporte/ AUTOMOBILISMO -  DA REPORTAGEM LOCAL

Antônio Gaudério/Folha Imagem

 

Mecânicos da BAR, uma das cinco equipes patrocinadas por cigarro na F-1, trabalham em Interlagos com uniforme sem publicidade

 

 

 

Homem-forte da F-1, Bernie Ecclestone em pessoa foi o arauto da notícia em Interlagos: as equipes participantes do GP Brasil vão exibir propaganda de cigarro s a partir dos primeiros treinos, na manhã de hoje, em São Paulo.

Após uma reunião com Jean Todt, diretor-esportivo da Ferrari, afirmou que mesmo o time italiano, que até então havia apagado a logomarca de seu patrocinador, voltaria atrás na decisão.

Ecclestone foi direto: "Aqui não há restrições à publicidade de tabaco". Questionado então sobre a polêmica em torno da lei antitabagista do país, foi ainda mais lacônico: "Isso é o Brasil.".

E após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária ) se negar a aplicar multas aos infratores da lei 10.167, o GP Brasil ganhou ontem uma espécie de anuência oficial para atropelar a legislação que trata das restrições à publicidade de cigarro no país.

Uma carta assinada pelo ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, foi distribuída para as cinco equipes que contam com publicidade de
cigarro : Ferrari, McLaren, BAR, Renault e Jordan. Muita gente ficou aliviada no paddock.

"Hoje [ontem] de manhã, os advogados da Souza Cruz recomendaram que tirássemos a marca de cigarro porque a gente só tinha a nosso favor um parecer da CBA [Confederação Brasileira de Automobilismo]", disse Yan Lefort, relações-públicas da BAT, grupo tabagista proprietário da BAR. "Agora que recebemos uma carta oficial, do Ministério do Esporte, vamos voltar a pôr nossa marca."

Além de Ferrari e BAR, outros envolvidos haviam tomado a iniciativa de evitar infringir a lei.

A Rede Globo, por exemplo, orientou sua equipe a não focalizar as marcas de  cigarro .

Fora do autódromo, surgem protestos contra a atitude do governo federal, tomada a partir de um pedido da Prefeitura de São Paulo, co-promotora da prova.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia protocolou um protesto na Anvisa. E um advogado de São Paulo, Carlos Perin Filho, entrou com uma ação no Tribunal Regional Federal para obrigar as equipes a tirarem os patrocínios.

Resultado ou não dessas reações, Queiroz reuniu-se ontem à noite com outros dois ministros, Humberto Costa ( Saúde ) e José Dirceu (Casa Civil) para uma nova discussão sobre o assunto. Porém, nenhuma mudança de postura foi anunciada. (FSX e JHM) colaborou a Sucursal de Brasília.

Pela 1ª vez, Interlagos é aprovado totalmente

DA REPORTAGEM LOCAL

Não fosse por toda a polêmica causada em torno da publicidade tabagista, o GP Brasil de F-1 teria tudo para realizar em 2003 uma etapa praticamente perfeita.

Ontem, pela primeira vez, o circuito de Interlagos foi vistoriado e aprovado "de primeira" pelo inglês Charlie Whiting, inspetor de segurança da FIA (entidade máxima do automobilismo).

Nenhuma mudança foi pedida pelo dirigente, diferentemente das edições anteriores, quando sempre havia uma ou outra mudança para ser feita, por vezes, horas antes dos primeiros treinos.

Este ano a Prefeitura de São Paulo começou as obras com antecedência para evitar problemas. Realizou primeiro as obras maiores, como recapeamento da pista e áreas de escape, e deixou para o final apenas pequenos trabalhos, como pinturas e jardinagem.

Ontem, Whiting percorreu toda a extensão da pista a pé, acompanhado por Carlos Montagner, diretor de prova do GP Brasil, durante a última vistoria oficial.

Antes disso, o inglês já havia verificado as condições da pista duas vezes: em 17 de fevereiro e na última segunda. (FSX E TC)