O Estado de São Paulo

Data: 02 de abril de 2003

 

ADRENALINA DO COMBATE ELEVA O RISCO DE ENFARTE 

O prolongamento da guerra do Iraque vai começar a matar muita gente de enfarte, e não apenas soldados, mas também civis. O alerta é de cardiologistas brasileiros ouvidos pelo Estado, que prevêem uma explosão de doenças cardíacas por causa da repetida descarga de adrenalina durante cenas de combate e bombardeios.

A tendência foi observada durante confrontos como a 1.ª Guerra do Golfo e a guerra civil dos Bálcãs. Hoje, pode ser observada quando os ataques israelenses contra cidades palestinas se refletem nas estatísticas de enfarte. "Estudos sobre o aumento dos enfartes em épocas de combates estão sendo divulgados", diz o cardiologista Nabil Ghorayeb.

Na atual guerra no Iraque, o cardio-geriatra Felício Saviolli Neto, do Instituto Dante Pazzanese, diz que o efeito do estresse de combate sobre o coração é agravado pelo uso das anfetaminas que os soldados da coalizão estão tomando para resistir com pouco sono. A anfetamina causa envelhecimento precoce das artérias, que pode levar ao enfarte.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia também acompanha o tema, diz Augusto Bozza, da comissão científica. "O efeito do estresse do combate sobre o coração do soldado foi descoberto na Guerra da Coréia, quando autópsias de soldados muito jovens comprovaram lesões avançadas nas coronárias, (do tipo) que só se podia esperar em gente com mais de 60 anos", relembra.

Nas guerras mais recentes, os médicos descobriram que o problema era a "aterosclerose galopante", pois soldados que estavam saudáveis quando entraram no Exército morriam meses depois devido a comprometimento das artérias.