Diário de São Paulo

Data: 16/07/2003

Cardiologistas vão prescrever exercício físico aos pacientes 

 

O tipo e a “dose” de atividade física serão colocados na receita, como é feito com os remédios. Iniciativa é da Sociedade Brasileira de Cardiologia

Não estranhe ao ler em sua receita médica a prescrição de uma nova classe de medicamentos: a atividade física. A partir de agora, todos os cardiologistas brasileiros estão orientados a prescrever, além dos remédios tradicionais, um programa de exercícios a seus pacientes.

A idéia é reduzir o grande número de pacientes com doenças cardíacas no Brasil, que chegam a matar 400 mil pessoas a cada ano.

Segundo Nabil Ghorayeb, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), quem pratica exercícios tem 34% a mais de chance de ter sucesso na prevenção ou no tratamento de doenças cardiovasculares. “Como a atividade física estará descrita na receita, esperamos que os pacientes se estimulem mais do que quando o médico apenas falava”, diz o especialista. “O exercício ganha conotação de remédio”, completa.

Apesar de ver a iniciativa com bons olhos, o fisiologista Turíbio Leite de Barros Neto, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), está preocupado com o conhecimento dos cardiologistas em prescrever adequadamente a atividade. “Seria importante os médicos passarem por mais cursos nesta área”, comenta. “Até me proponho a colaborar nessa iniciativa, dando curso por meio do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte, da Unifesp”, afirma.

Ghorayeb, que é chefe do setor de Cardiologia do Esporte da SBC, reconhece esse problema. “Tenho certeza que é uma questão de tempo”, diz. Segundo outro diretor da sociedade, o cardiologista Emilio Zilli, a indicação do exercício físico será dado mesmo para as pessoas saudáveis, como forma de prevenção. “O que diferencia o paciente cardíaco do não cardíaco em relação à atividade física é a intensidade e freqüência do exercício”, explica Zilli.

De acordo com Barros Neto, a indicação de uma atividade deve levar em conta três aspectos: que tipo de modalidade a pessoa gosta de praticar, quais são os seus objetivos e como é a sua capacidade física. “O médico precisa unir esses aspectos ao prescrever”, conclui.

 

Luciana Sobral