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Diário de São Paulo
Data: 01 de Outubro de 2003
Médico afirma que amor é remédio contra doenças
cardiovasculares
Para especialista, redução
de complicações decorrentes de um ataque cardíaco chega a 30%.
Principal defensor da idéia é o cardiologista Dean Ornish, médico do
ex-presidente Bill Clinton
O amor, quem diria, acaba de se transformar na mais recente arma
contra as doenças cardiovasculares. Apresentado durante o 58º
Congresso Brasileiro de Cardiologia, que acontece em Salvador, o novo
“remédio” consegue reduzir em 30% as complicações decorrentes de
um ataque cardíaco. Pacientes solitários, que não amam, apresentam
50% a mais de chance de sofrer danos nas artérias do que aqueles que têm
um relacionamento saudável.
“Os estudos mostram ainda que o amor diminui o tempo de internação
do paciente, pois com o parceiro por perto, a pessoa se sente mais
confiante e tranqüila para o tratamento”, diz o cardiologista Marcus
Vinícius Malachias, que apresentou o tema no congresso. Segundo o médico,
a química amor colabora para o bom controle da pressão arterial, dos
batimentos cardíacos e do colesterol do paciente após o infarto e o
derrame cerebral (veja o que acontece no seu corpo no quadro ao lado).
O responsável por disseminar a idéia de que o amor pode tratar as
doenças cardiovasculares é o americano Dean Ornish, cardiologista do
ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e do ator Michael
Douglas. Em um de seus livros, “Love and Survival” (Amor e Sobrevivência),
o especialista conta que os sobreviventes de ataques cardíacos que
vivem sozinhos têm duas vezes mais chances de morrer em um ano. “O
assunto chamou tanto a atenção, que pretendo fazer um estudo também
no Brasil”, diz Malachias.
Para Maria Elenita Favarato, chefe do setor de psicologia do
Instituto do Coração (Incor), uma família bem estruturada pode fazer
muito pelo paciente. “A carência é comum entre os pacientes. Muitos
acabam entrando até em depressão por causa do problema”, conta.
Segundo a psicóloga, a família é extremamente importante neste
momento.
Apoio
A família da dona de casa Maria Thereza Caporrino, de 67 anos, sabe
o que é dar apoio. Quando sofreu um derrame cerebral, por conta de
pressão alta, Thereza foi muito bem acolhida pelo marido, o aposentado
João Luciano Caporrino, de 71, e pelas seis filhas. “Enquanto meu
marido ficava no quarto, minhas filhas se revezavam no carro e na
lanchonete do hospital”, conta.
“Recebi muito carinho da minha família e sei que isso ajudou muito
na minha recuperação”, ressalta Thereza, que atualmente é voluntária,
na Associação Amigos do Coração, do Incor. Trata-se de um organização
que ajuda pacientes carentes, mas não só financeiramente. “Também
damos atenção aos pacientes mais solitários”, lembra Luciano.
Solidão aumenta
risco de morte
De acordo com o médico Dean Ornish, as pessoas solitárias apresentam
deduas a cinco vezes mais chance de morrer por qualquer tipo de doença
se comparadas aos pacientes mais inseridos na comunidade.
Para Silvia Cury
Ismael, chefe do setor de psicologia do Hospital do Coração (HCor),
muitos pacientes descobrem que são amados quando estão no hospital.
“Muitos até comentam com a gente que não sabia que tanta gente
gostava dele, pelo número de ligações e visitas”, conta.
A necessidade do amor e
da atenção familiar durante o tratamento de pacientes com doença
cardiovascular é tão importante que as crianças internadas, por
exemplo, ficam o tempo todo com as mães.
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