Diário de São Paulo

Data: 14 de Janeiro de 2004

Hipertensão prejudica vida sexual

Pesquisa argentina indica que pressão alta pode diminuir excitação da mulher

Pesquisa realizada por médicos argentinos demonstrou que a pressão alta também pode prejudicar a vida sexual das mulheres, assim como acontece nos homens. De acordo com o estudo, feito no Hospital Durand e no Laboratório de Medicina Experimental do Hospital Alemão, ambos em Buenos Aires, a doença afeta negativamente a excitação da mulher.

O trabalho foi um dos primeiros a se preocupar com a sexualidade feminina. Até agora, os médicos só tinham comprovado cientificamente os efeitos negativos da hipertensão sobre a função erétil. "Nossos estudos sugerem que a pressão alta é um fator que condiciona negativamente a resposta sexual feminina durante a chamada fase de excitação", disse o coordenador da pesquisa, o médico Amado Bechara, ao jornal argentino "La Nacion".

Segundo os pesquisadores, a doença danifica a parede interior dos vasos localizados no clitóris e na vagina. Publicado na revista especializada "International Journal of Impotence Research", o estudo demonstrou ainda que a hipertensão também interfere na oferta local de neurotransmissores que participam da fase de excitação do ato sexual. Estas substâncias são consideradas fundamentais para o orgasmo.

Para chegar a esta conclusão, os médicos compararam o aparelho genital de ratazanas normais com o de outras geneticamente modificadas para ter pressão alta. Segundo o médico Carlos Alberto Machado, diretor do Fundo de Aperfeiçoamento e Pesquisa em Cardiologia (Funcor), as pesquisas ainda são bastante iniciais.

"Os resultados são importantes, mas ainda é preciso mais estudo. O trabalho foi feito com animais e isso não significa necessariamente que a conclusão será a mesma em humanos", comenta o cardiologista. Machado confirma que a pressão alta causa alterações na camada mais interna das artérias, chamada de endotélio, comprometendo a irrigação dos vasos.

O médico duvida, no entanto, da interferência da hipertensão sobre os neurotransmissores importantes para a mulher alcançar o orgasmo. "Isso ainda não está comprovado cientificamente", afirma.


Incidência

A pressão alta atinge 5% da população feminina brasileira até 40 anos. Acima desta idade, a prevalência chega a ser de 10%. Entre os homens, os números são ainda maiores. Pelo menos 39% dos brasileiros entre 20 e 49 anos apresentam a doença, chamada de assassina silenciosa. Além dos efeitos sobre a sexualidade, a doença aumento o risco de problemas cardiovasculares, como infarto e derrame cerebral.