Jornal do Brasil
Saúde: Negros ganham remédio específico
Droga evita doenças cardiovasculares
Uma nova droga para evitar doenças do coração está em sua última fase de testes nos EUA. O diferencial do Bidil é que ele é designado para pessoas de pele negra. A ligação parece estranha, mas há entre os afro-americanos uma incidência mais alta de problemas do coração. Alguns estudos indicam que existe o dobro de casos de insuficiência cardíaca entre os negros naquele país.
- No Brasil, não há dados nacionais, mas sabe-se que pessoas de pele escura têm mais hipertensão, doenças renais e diabete do tipo 2 do que pessoas de pele clara - diz o cardiologista Raimundo Nascimento, presidente da Funcor, órgão ligado à Sociedade Brasileira de Cardiologia.
A hipertensão é uma das causas das doenças renais e coronarianas, como o infarto e a morte súbita.
O cardiologista e nefrologista da unidade de hipertensão do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo (Incor), Dante Giorgi, diz que o motivo para a falta de dados é a dificuldade em se classificar as pessoas por raças, devido à miscigenação.
O Bidil, do laboratório NitroMed, foi testado em pessoas de todas as raças na década de 80, sem dar resultados melhores que os de outras drogas. Mas recentemente descobriu-se a significativa diferença entre os resultados em brancos e em negros.
O laboratório informa que a mais provável causa desta diferença está no fato de afro-americanos terem uma taxa mais baixa de óxido nítrico no corpo. A substância é vasodilatadora.
Uma das hipóteses apontadas para a diferença entre a pressão arterial de brancos e negros nas Américas vem de uma espécie de seleção natural, explica o médico do Incor. Sobreviviam ao transporte de escravos vindos da África aqueles que conseguiam reter mais água no corpo:
- Havia mais dificuldade de o sal sair do organismo dessas pessoas - explica Giorgio.
O Bidil contém dinitrato de isossorbita, uma molécula doadora de óxido nítrico, usada há duas décadas para combater a hipertensão, e hidralazina, que também é um agente vasodilatador, em uso desde a década de 50.
As duas drogas são usadas em brancos e negros, mas o laboratório garante que a combinação tem resultados mais efetivos em gente de pele negra do que outros remédios.
Catharina Epprecht