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Estado de Minas
Data: 23 de dezembro de 2004
Cardápio
colorido
Dieta que será lançada no Brasil no ano que vem
recomenda o consumo diário de cinco ou mais vegetais de cores
diferentes
Déa Januzzi

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Fotos
Beto Novaes
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Um dia é a dieta de proteína do dr. Atkins; no outro, a do
grupo sangüíneo é que vai promover a saúde; amanhã surge a da
Lua, da sopa, do abacaxi e tantas outras, mas especialistas do
mundo inteiro parecem ter chegado a um consenso sobre uma orientação
alimentar que garante benefícios ao coração, circulação sangüínea,
hipertensão, diabetes, prevenção do câncer e combate à
obesidade. Mais uma dieta mágica? “Não”, responde o diretor
do Instituto de Hipertensão de Minas Gerais e diretor da Fundação
do Coração da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Funcor/SBC),
Marcus Vinícius Bolívar Malachias. Em 2005, ele vai lançar, no
Brasil, o programa 5 a day for better health, ou cinco frutas e
vegetais por dia para uma saúde melhor. O programa foi criado na
Califórnia, em 1988, pelo Instituto Nacional do Câncer dos
Estados Unidos, num esforço conjunto entre instituições públicas
e privadas. A nova orientação alimentar tem como objetivo o
consumo de pelo menos cinco hortaliças e frutas diárias por 75%
dos norte-americanos até 2010.
Com o sucesso do programa, em 1991, foi criada a Fundação para
uma Saúde Melhor (Produce for Better Health Foundation) e, a
partir de 2000, o programa passou a ser chamado simplesmente de 5
a day. No Brasil, a SBC, com Selo de Aprovação de Alimentos, que
certifica produtos saudáveis para o coração, está adotando o
nome “5 ou + vegetais”. A recomendação é atingir a ingestão
mínima diária de 400 gramas de vegetais e frutas. É preciso
também optar por uma variedade de cores: laranja, amarelo,
vermelho, verde, azul e branco. As cores no cardápio funcionam
como um guia para facilitar a identificação dos nutrientes e
fitoquímicos, assim como seus respectivos benefícios e
propriedades funcionais.
O programa leva em conta a simplicidade. “É uma dieta fácil de
ser feita, universal, adaptável para cada cultura, barata e
gostosa. A ‘5 ou + mais vegetais’ reúne todas essas
qualidades, além de ter seus benefícios cientificamente
comprovados”, afirma o cardiologista. |
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BEM VIVER
O organismo agradece
Combinação de porções de frutas e vegetais distribuídos
durante todo o dia ajuda na prevenção e no tratamento de doenças
Déa Januzzi
Paulo
Filgueiras
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A professora Maria Nazareth Fonseca acha que a dieta das cores
é simples de fazer, além de não ser enjoativa
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A receita é infalível: coma, todos os dias, uma variedade de
cores: amarela, laranja, vermelha, verde, azul, branca e marrom. A
quantidade a ser calculada corresponde a uma porção que caiba na
palma da mão. Depois é distribuir as cinco ou mais partes de
vegetais e frutas nas refeições. No café da manhã, por
exemplo, uma porção de fruta ou suco e um cereal. Entre o café
da manhã e o almoço, uma fruta. No almoço, utilize duas a
quatro porções de hortaliças. No café da tarde, volte a
utilizar frutas e cereais. No jantar, mais vegetais. Antes de
dormir, uma refeição com fruta ou suco. O cardápio colorido está
pronto, com porções (cinco ou mais) de vegetais ao dia, a forma
mais saudável de se alimentar, sem abrir mão do que cada um
gosta de comer.
Estudos comprovam que, mesmo que as pessoas comam carnes, gorduras
e doces, as que ingerem cinco ou mais vegetais ao dia, acabam
consumindo menores porções de alimentos calóricos e pouco saudáveis.
Em qualquer estação do ano – primavera, verão, outono,
inverno – a natureza oferece uma enorme variedade de cores,
capaz de agradar ao paladar de qualquer pessoa.

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Marcus Bolívar explica que a 5 a day foi criada para unificar
as muitas formas de prevenir e tratar doenças distintas
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A dieta dos 5 ou + vegetais, adaptação
brasileira da 5 a day, não caiu do céu. Nem foi uma dessas invenções
mirabolantes. De acordo com o cardiologista Marcus Vinícius Bolívar,
doutor em cardiologia pela Universidade de São Paulo (USP), ela
reúne o melhor de cada orientação alimentar. Criada para
unificar as muitas formas de prevenir e tratar doenças distintas
– como os muitos tipos de câncer, as doenças cardiovasculares,
o diabetes, a hipertensão, a obesidade e os distúrbios
digestivos. “A 5 ou + vegetais é uma maneira descomplicada de
ter uma alimentação saudável, que vem sendo adotada como modelo
por diversas instituições médicas internacionais, como a
Organização Mundial de Saúde (OMS), o Instituto Nacional do Câncer
dos Estados Unidos e, no Brasil, pela Sociedade Brasileira de
Cardiologia/Fundação do Coração (SBC/Funcor).”
SIMPLES A dieta é baseada no uso de cinco porções de
vegetais ao dia, divididos nas várias refeições. O
cardiologista recomenda, pelo menos, duas porções de frutas e
pelo menos três de verduras, legumes e cereais. Uma maneira
simples de aproveitar bem a riqueza dessa orientação alimentar
é prestar atenção nas cinco principais cores dos alimentos:
verde, amarelo, vermelho, branco e azul. A cor marrom é acessória,
mas também pode ser introduzida no cardápio. “Há comprovações”,
diz Marcus Bolívar, “de que ao utilizar pelo menos cinco porções
de vegetais ao dia, a dieta se torna rica na maioria dos
nutrientes essenciais ao organismo, bem como em substâncias
antioxidantes, fibras e suplementos saudáveis, que podem prevenir
e tratar doenças. Além disso, o uso de cinco ou mais vegetais ao
dia diminui a ingestão de açúcares (carboidratos), gordura
saturada e colesterol, alimentos que estão associados ao
aparecimento de doenças e da obesidade.”
Ele mostra um estudo recente, publicado na revista médica européia
Lancet, intitulado Inter Heart, que analisou vítimas de infarto
em 52 diferentes países incluindo o Brasil, e comprovou que, além
dos principais fatores de risco que afetam o coração – como
fumo, hipertensão, colesterol e diabetes – o baixo consumo de
frutas e verduras aumenta em três vezes o risco de morte por doenças
cardiovasculares. Outras pesquisas demonstram que o baixo consumo
de vegetais está ligado ainda ao risco maior de câncer,
acidentes vasculares cerebrais (derrames e tromboses), diabetes e
obesidade.
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BEM VIVER
Adepto da dieta desde bebê
Beto
Novaes
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A advogada Luciana Cordeiro prepara a sopinha de Felipe, desde
bebê, com as cinco cores da dieta
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Desde que nasceu, há oito meses, Felipe já experimenta os benefícios
da dieta 5 ou + vegetais. Assim que ficou sabendo, por seu
cardiologista, da nova orientação alimentar, a advogada Luciana
Magda Cordeiro, de 30 anos, passou a fazer a sopa do filho com as
cores indicadas. “Não sei se é coincidência ou não, mas
Felipe é supersaudável, nunca adoeceu desde que comecei a
respeitar a cor dos alimentos. De manhã, ele toma a mamadeira às
9h, come a fruta que preferir e, no almoço, faço a sopa batida
no liqüidificador, com abóbora, espinafre, beterraba, tomate,
inhame e cenoura, que fica bem colorida.”
Orgulhosa da saúde do bebê, pois ele está aprendendo a comer
bem desde cedo, Magda também aderiu à dieta das cores, a partir
da gravidez de Felipe. “Não sou doida por corpo perfeito nem
dieta, mas não gosto de estar acima do peso. Quando engravidei,
morri de medo de engordar e passei a prestar atenção na cor dos
alimentos. Não limitei a quantidade, mas quando você come coisas
saudáveis não sobra espaço para frituras, açúcares em excesso
e gorduras.” Os nove quilos e meio acumulados durante a gestação
de Felipe, foram perdidos logo, com a dieta das cores e muitas
caminhadas. “Eu pesava 55 quilos antes de ficar grávida e hoje
estou com 53”, diz, feliz da vida.
Já Maria Nazareth Soares Fonseca, de 67, professora de pós-graduação
da PUC Minas, na área de literaturas africanas de língua
portuguesa, sempre se preocupou com a questão da saúde, em fazer
atividade física e caminhadas algumas vezes na semana. “Nas férias,
faço todo dia e já passei pela natação e yôga. Hoje, faço
massagem ayurvédica, para tirar as tensões do corpo, pois sou
muito ansiosa.” Mas no último checkup levou um tremendo susto.
“As taxas de glicose e de colesterol estavam muito altas e o meu
cardiologista disse que não ia me dar nenhum remédio, mas que eu
deveria fazer um controle alimentar”, explica.
No primeiro mês, Nazareth fez uma dieta drástica. “Cortei 90%
de doces, massas e frituras, mas depois fui levada pelas cores dos
alimentos. Comecei a comer mais frutas e legumes para variar o
cardápio.” Também na função de diretora da editora da PUC
Minas, ela corre de um lado para o outro, com a agenda sempre
apertada, mas acha que a dieta das cores, além de fácil de
fazer, não enjoa”.
Sem neura, ela come seis vezes ao dia escolhendo os alimentos
vermelhos, verdes, amarelos, púrpuras e brancos. Não abre mão
também das fibras, que compõem a porção marrom, além de
respeitar a recomendação mínima diária de 400 gramas de
vegetais e frutas.
Maria Nazareth reconhece que essa dieta pode ser feita em qualquer
estação do ano, pois a natureza oferece uma profusão de cores
na primavera, verão, outono e inverno, que pode agradar o paladar
de todas as pessoas. Ela sabe que a ‘5 ou + vegetais’ foi
baseada na dieta mediterrânea, principalmente da ilha de Creta,
reconhecida por ter um dos padrões alimentares mais saudáveis do
mundo. “Essa dieta privilegia peixes (em lugar de carnes),
azeite (não aquecido), muitos vegetais e frutas, algum consumo de
vinho, pouca gordura de origem animal, pães e massas integrais e
grande quantidade de fibras”, constata.
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