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Folha Cotidiano
Data: 06 de Outubro de 2003
Estudo mostra que risco de doenças coronarianas
cresce entre os homens que apresentam disfunção erétil. Impotência
pode indicar problema cardíaco
Dificuldades constantes de ereção podem ser um
indicativo de doenças do coração, um problema ainda mais grave que
pode acabar até em infarto.
Um estudo apresentado no último Congresso Brasileiro de Cardiologia, em
Salvador (BA), quantificou melhor a relação entre esses dois
problemas.
O grau de disfunção erétil foi dividido em três níveis: leve,
quando acontece ocasionalmente, moderada, em que a falha ocorre
frequentemente, e completa, quando o homem "broxa" quase
sempre ou sempre.
Uma coisa não causa a outra, mas, entre homens que têm disfunção
leve, o risco de doenças coronarianas é superior ao dobro do que entre
os que não falham. A probabilidade de ocorrer doença coronariana passa
de 2,9% entre os que não têm falhas para 6,5% nos homens com disfunção
leve.
A ameaça aumenta à medida que o grau de disfunção piora. Nos
pacientes em que a falha ocorre quase sempre, um em cada cinco também têm
doenças coronarianas -obstrução dos vasos do coração que pode
resultar em infarto. Isso significa uma incidência quase sete vezes
maior.
A relação entre disfunção erétil e problemas do coração é
importante porque algumas vezes o primeiro sinal da doença coronariana
é justamente o infarto. Com isso, se os médicos prestarem atenção à
conexão entre os dois problemas, futuras complicações podem vir a ser
evitadas.
É isso o que explica Edson Duarte Moreira Jr., pesquisador da Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz) na Bahia e um dos coordenadores do estudo.
"O estudo sugere que a disfunção erétil pode ser uma
"manifestação-sentinela", um aviso", afirma. "O
problema da doença coronariana é que muitas vezes ela é assintomática,
o primeiro sintoma às vezes é um infarto", completa.
De acordo com o pesquisador da Fiocruz na Bahia, "por trás do
infarto e da disfunção erétil temos o mesmo problema, que é a obstrução
do vaso [sanguíneo]".
O estudo, chamado de Avaliar, é financiado pelo laboratório Pfizer,
que produz o Viagra, a droga que detém 68% do mercado no tratamento de
disfunção erétil e recentemente ganhou novos concorrentes. No ano
passado, a empresa faturou US$ 62 milhões no Brasil. No mundo, o
faturamento em 2002 foi de US$ 1,7 bilhão.
A pesquisa
No total, 4.300 médicos de várias especializações fizeram mais
de 71 mil entrevistas com pacientes homens em seus consultórios para
chegar a esses resultados. O projeto foi realizado em nove cidades,
entre elas sete capitais.
De acordo com uma outra pesquisa, realizada em 2001, 46,2% dos homens do
Brasil apresentam algum tipo de problema de ereção. Mas 12,1% têm
disfunção moderada, e 2,6%, completa.
No final de maio de 2003, já havia sido divulgada uma primeira parte do
projeto Avaliar, que mostrou que apenas 36% dos médicos perguntam
frequentemente ou sempre sobre a saúde sexual de seus pacientes. Agora,
com a confirmação de que a disfunção erétil é um importante
sinalizador de problemas cardíacos, esse dado ganha um novo sentido.
Como bem mostrou a pesquisa, os assuntos da cama têm relação direta
com os do coração.
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