Ao contrário dos adágios populares de que "nunca ninguém morreu
por trabalhar" e de "o trabalho dignifica o homem",
pesquisadores japoneses acabam de anunciar oficialmente que trabalhar
muito dá enfarte, e que a faixa segura para qualquer trabalhador é até
35 horas semanais de labuta, o que significa um máximo de sete horas diárias,
e apenas cinco dias por semana.
O trabalho acaba de ser publicado na revista "Occupational and
Environmental Medicine" e já provocou reações entre os médicos
brasileiros, que vão iniciar pesquisas para comprovar se os índices
japoneses são válidos igualmente no Brasil.
O cardiologista Nabil Ghorayeb, do Hospital do Coração, afirma que
sabidamente os "workaholics" são propensos ao enfarte precoce,
antes mesmo dos 40 anos, mas que será um avanço importante a possível
correlação entre horas de trabalho diário e aumento do risco do
enfarte, como conseguiram os japoneses.
"Trabalhadores enfartados temos muitos", garante o médico, e
será fácil fazer um inquérito sobre horas trabalhadas. "O problema
será conseguir a amostra de controle representativa, para o que vamos
precisar um bom grupo de vagabundos assumidos e saudáveis, e está difícil
arranjar voluntários".
Sono
O estudo japonês foi preparado por uma equipe dirigida pelo professor
Ying Liu, do Grupo de Estudos do Coração de Fukuoka, em Tóquio, e se
baseou em 260 homens de 40 a 79 anos que tiveram enfarte e 445 não
enfartados. Todos preencheram o mesmo tipo de formulário, registrando
horas de trabalho e tipo de atividade que desempenham, número de dias de
descanso, se ele é efetivo, e horas de sono habituais.
Foi feita uma compensação matemática dos fatores de risco, levando
em conta nível de estresse, excesso de peso, hipertensão, nível de
colesterol e diabetes, fatores que aumentam o risco de enfarte. Conclusão:
o trabalho não aumenta o risco de enfarte até o limite de 35 horas
semanais, o que equivale a sete horas diárias, com sábado e domingo de
descanso.
Na faixa de 35 a 40 horas semanais, o correspondente a até 8 horas diárias,
o risco é 1,5 vezes maior que na população em geral, saltando para 1,7
vezes se o paciente trabalha de 41 a 60 horas por semana, o que significa
até 12 horas por dia, quantidade de trabalho que, segundo Nabil Ghorayeb,
é extremamente comum entre os executivos brasileiros.
Na faixa em que se trabalha mais de 12 horas por dia, o risco de
enfarte sobe para 2,9 vezes, e a tabela deixa bem claro que à medida em
que se trabalha mais, o risco aumenta.
Para reduzir o risco de enfarte, quando não é possível diminuir a
carga horária de trabalho, os médicos japoneses recomendam dois dias de
descanso absoluto por mês e, principalmente, aumento do número de horas
de sono. O risco de enfarte cresce dramaticamente quando o paciente dorme
menos de cinco horas pelo menos dois dias por semana. "A falta de
sono suficiente parece ser um verdadeiro gatilho para o enfarte",
afirma Ying Liu.
O médico insiste que o estudo apenas quantificou o risco, mas as
primeiras constatações relativas ao binômio trabalho/enfarte indicam
que trabalhar muitas horas aumenta a pressão sangüínea, os batimentos
cardíacos, sintomas psicológicos como dor no peito, depressão e fatiga,
levando a disfunções cardiovasculares, que acabam resultando no enfarte.