Agência Estado

Data: 17 de julho de 2002

Muito trabalho causa enfarte, dizem pesquisadores japoneses

Ao contrário dos adágios populares de que "nunca ninguém morreu por trabalhar" e de "o trabalho dignifica o homem", pesquisadores japoneses acabam de anunciar oficialmente que trabalhar muito dá enfarte, e que a faixa segura para qualquer trabalhador é até 35 horas semanais de labuta, o que significa um máximo de sete horas diárias, e apenas cinco dias por semana.

O trabalho acaba de ser publicado na revista "Occupational and Environmental Medicine" e já provocou reações entre os médicos brasileiros, que vão iniciar pesquisas para comprovar se os índices japoneses são válidos igualmente no Brasil.

O cardiologista Nabil Ghorayeb, do Hospital do Coração, afirma que sabidamente os "workaholics" são propensos ao enfarte precoce, antes mesmo dos 40 anos, mas que será um avanço importante a possível correlação entre horas de trabalho diário e aumento do risco do enfarte, como conseguiram os japoneses.

"Trabalhadores enfartados temos muitos", garante o médico, e será fácil fazer um inquérito sobre horas trabalhadas. "O problema será conseguir a amostra de controle representativa, para o que vamos precisar um bom grupo de vagabundos assumidos e saudáveis, e está difícil arranjar voluntários".

Sono

O estudo japonês foi preparado por uma equipe dirigida pelo professor Ying Liu, do Grupo de Estudos do Coração de Fukuoka, em Tóquio, e se baseou em 260 homens de 40 a 79 anos que tiveram enfarte e 445 não enfartados. Todos preencheram o mesmo tipo de formulário, registrando horas de trabalho e tipo de atividade que desempenham, número de dias de descanso, se ele é efetivo, e horas de sono habituais.

Foi feita uma compensação matemática dos fatores de risco, levando em conta nível de estresse, excesso de peso, hipertensão, nível de colesterol e diabetes, fatores que aumentam o risco de enfarte. Conclusão: o trabalho não aumenta o risco de enfarte até o limite de 35 horas semanais, o que equivale a sete horas diárias, com sábado e domingo de descanso.

Na faixa de 35 a 40 horas semanais, o correspondente a até 8 horas diárias, o risco é 1,5 vezes maior que na população em geral, saltando para 1,7 vezes se o paciente trabalha de 41 a 60 horas por semana, o que significa até 12 horas por dia, quantidade de trabalho que, segundo Nabil Ghorayeb, é extremamente comum entre os executivos brasileiros.

Na faixa em que se trabalha mais de 12 horas por dia, o risco de enfarte sobe para 2,9 vezes, e a tabela deixa bem claro que à medida em que se trabalha mais, o risco aumenta.

Para reduzir o risco de enfarte, quando não é possível diminuir a carga horária de trabalho, os médicos japoneses recomendam dois dias de descanso absoluto por mês e, principalmente, aumento do número de horas de sono. O risco de enfarte cresce dramaticamente quando o paciente dorme menos de cinco horas pelo menos dois dias por semana. "A falta de sono suficiente parece ser um verdadeiro gatilho para o enfarte", afirma Ying Liu.

O médico insiste que o estudo apenas quantificou o risco, mas as primeiras constatações relativas ao binômio trabalho/enfarte indicam que trabalhar muitas horas aumenta a pressão sangüínea, os batimentos cardíacos, sintomas psicológicos como dor no peito, depressão e fatiga, levando a disfunções cardiovasculares, que acabam resultando no enfarte.