Os jovens que se cuidem. Enfarte não é exclusividade de pessoas
mais velhas. Um rapaz de 18 anos, uma mulher de 33, outro homem de 30.
Nos prontos-socorros especializados em cardiologia, esses pacientes
fazem parte da rotina de atendimento. No seu perfil, dois pontos em
comum: cigarro e história de enfarte na família, geração após geração.
Tabagismo e predisposição genética são os principais fatores de
risco encontrados em jovens que enfartam.
Estatísticas mostram que 20% das mortes provocadas por enfarte
atingem pessoas entre 20 e 49 anos. Ao considerar que o risco de enfarte
só existe para os mais velhos, o jovem deixa de se cuidar. Fuma,
exagera na bebida alcoólica, é sedentário e abusa de alimentos
gordurosos. Ele pode escapar dos 20% que enfartam antes dos 50 anos, mas
o estilo de vida errado aumenta o risco de enfarte depois dessa idade.
Da herança genética, não há como escapar. Jovens de famílias com
história de enfarte ou doença coronária são mais suscetíveis.
"Quanto menor a idade da ocorrência de enfarte, maior valor tem a
carga genética desse indivíduo", diz o cardiologista Álvaro
Avezum, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Além disso, os especialistas descobriram que placas de gordura mais
novas oferecem maior risco de obstrução das artérias. É esse
entupimento que provoca o enfarte. Avezum explica que placas novas são
mais moles do que as antigas. Por isso, elas racham com maior
facilidade. A rebarba da rachadura facilita a parada de coágulos de
sangue sobre a placa. O amontoado de coágulos obstrui a artéria.
O enfarte no jovem costuma ser fulminante e fatal. "No jovem, a
doença é mais grave, pois evolui de forma mais intensa e rápida",
explica Carlos Alberto Machado, do Fundo de Amparo à Pesquisa em
Cardiologia (Funcor) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). A
dupla pressão alta e colesterol elevado age silenciosamente no
organismo. "O primeiro sintoma é o enfarte", alerta Celso
Amodeo, presidente do Funcor da SBC.
Ataques - O cardiologista Antônio Carlos Carvalho, professor
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esclarece que ataques
fulminantes também podem ser outro tipo de doença que não o enfarte.
"Pode ser arritmia ou um problema congênito que a pessoa tem sem
saber."
"Muitos já perceberam que a visita médica serve para prevenir
doenças", diz Luiz Antônio Machado César, diretor da Unidade de
Coronariopatia Crônica do Instituto do Coração (Incor) do Hospital
das Clínicas. "É questão de mudar hábitos. Os mais velhos ainda
pensam que médico é só para quem está doente."
A saúde do coração depende de dois fatores: o genético e o estilo
de vida. O fator genético é medido pela história familiar de cada um.
Quem tem parentes com doenças cardiovasculares herda a predisposição
genética para também desenvolver o problema.
No rol do estilo de vida, alimentação rica em gordura e pobre em
vegetais, fumo, exagero no consumo de bebidas alcoólicas, sedentarismo
e estresse são companheiros fiéis das doenças do coração.
"Erros no estilo de vida potencializam o risco de doença
cardiovascular", diz Amodeo. Se as gressões ao coração começam
cedo, o enfarte pode se adiantar.
A Prevenção deve começar aos 20 anos. A recomendação foi feita
pela Associação Americana do Coração. Tanto os níveis de colesterol
quanto a pressão arterial devem ser medidos regularmente a partir dessa
idade. É também nessa fase que os cuidados com alimentação e a prática
regular de atividade física já devem ser parte do estilo de vida.
Parâmetros - No ano passado, o Instituto Nacional de Saúde
dos Estados Unidos anunciou novos parâmetros para os níveis normais de
colesterol LDL (o ruim) e HDL (o bom). O nível normal de colesterol
total foi mantido em até 200 miligramas por decilitro de sangue. A
novidade é que dentro desses 200 mg, o ideal é que só 100 mg sejam de
LDL. O valor mínimo de HDL (colesterol que protege o coração) passou
de 35 para 40 miligramas por decilitro.
Quem quer preservar a saúde deve evitar o consumo de leite e iogurte
integrais, queijos amarelos, creme de leite, manteiga, gordura vegetal,
cremes à base de chocolate ou coco, carnes gordas, embutidos, bacon e
banha de porco. A Organização Mundial da Saúde recomenda 30 minutos
diários de atividade física. Segundo os médicos, a melhor opção é
a caminhada.