Agência Estado

Data: 21 de agosto de 2002

Jovens correndo contra o enfarte

Os jovens que se cuidem. Enfarte não é exclusividade de pessoas mais velhas. Um rapaz de 18 anos, uma mulher de 33, outro homem de 30. Nos prontos-socorros especializados em cardiologia, esses pacientes fazem parte da rotina de atendimento. No seu perfil, dois pontos em comum: cigarro e história de enfarte na família, geração após geração. Tabagismo e predisposição genética são os principais fatores de risco encontrados em jovens que enfartam.

Estatísticas mostram que 20% das mortes provocadas por enfarte atingem pessoas entre 20 e 49 anos. Ao considerar que o risco de enfarte só existe para os mais velhos, o jovem deixa de se cuidar. Fuma, exagera na bebida alcoólica, é sedentário e abusa de alimentos gordurosos. Ele pode escapar dos 20% que enfartam antes dos 50 anos, mas o estilo de vida errado aumenta o risco de enfarte depois dessa idade.

Da herança genética, não há como escapar. Jovens de famílias com história de enfarte ou doença coronária são mais suscetíveis. "Quanto menor a idade da ocorrência de enfarte, maior valor tem a carga genética desse indivíduo", diz o cardiologista Álvaro Avezum, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.

Além disso, os especialistas descobriram que placas de gordura mais novas oferecem maior risco de obstrução das artérias. É esse entupimento que provoca o enfarte. Avezum explica que placas novas são mais moles do que as antigas. Por isso, elas racham com maior facilidade. A rebarba da rachadura facilita a parada de coágulos de sangue sobre a placa. O amontoado de coágulos obstrui a artéria.

O enfarte no jovem costuma ser fulminante e fatal. "No jovem, a doença é mais grave, pois evolui de forma mais intensa e rápida", explica Carlos Alberto Machado, do Fundo de Amparo à Pesquisa em Cardiologia (Funcor) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). A dupla pressão alta e colesterol elevado age silenciosamente no organismo. "O primeiro sintoma é o enfarte", alerta Celso Amodeo, presidente do Funcor da SBC.

Ataques - O cardiologista Antônio Carlos Carvalho, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esclarece que ataques fulminantes também podem ser outro tipo de doença que não o enfarte. "Pode ser arritmia ou um problema congênito que a pessoa tem sem saber."

"Muitos já perceberam que a visita médica serve para prevenir doenças", diz Luiz Antônio Machado César, diretor da Unidade de Coronariopatia Crônica do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas. "É questão de mudar hábitos. Os mais velhos ainda pensam que médico é só para quem está doente."

A saúde do coração depende de dois fatores: o genético e o estilo de vida. O fator genético é medido pela história familiar de cada um. Quem tem parentes com doenças cardiovasculares herda a predisposição genética para também desenvolver o problema.

No rol do estilo de vida, alimentação rica em gordura e pobre em vegetais, fumo, exagero no consumo de bebidas alcoólicas, sedentarismo e estresse são companheiros fiéis das doenças do coração. "Erros no estilo de vida potencializam o risco de doença cardiovascular", diz Amodeo. Se as gressões ao coração começam cedo, o enfarte pode se adiantar.

A Prevenção deve começar aos 20 anos. A recomendação foi feita pela Associação Americana do Coração. Tanto os níveis de colesterol quanto a pressão arterial devem ser medidos regularmente a partir dessa idade. É também nessa fase que os cuidados com alimentação e a prática regular de atividade física já devem ser parte do estilo de vida.

Parâmetros - No ano passado, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos anunciou novos parâmetros para os níveis normais de colesterol LDL (o ruim) e HDL (o bom). O nível normal de colesterol total foi mantido em até 200 miligramas por decilitro de sangue. A novidade é que dentro desses 200 mg, o ideal é que só 100 mg sejam de LDL. O valor mínimo de HDL (colesterol que protege o coração) passou de 35 para 40 miligramas por decilitro.

Quem quer preservar a saúde deve evitar o consumo de leite e iogurte integrais, queijos amarelos, creme de leite, manteiga, gordura vegetal, cremes à base de chocolate ou coco, carnes gordas, embutidos, bacon e banha de porco. A Organização Mundial da Saúde recomenda 30 minutos diários de atividade física. Segundo os médicos, a melhor opção é a caminhada.