Revista Veja

Data: 07 de setembro de 2002

Um levantamento mostra que o nível de colesterol dos brasileiros é mais alto do que se pensava

 

A Sociedade Brasileira de Cardiologia concluiu recentemente o maior levantamento já feito no país sobre os níveis de colesterol na população. Ao todo, foram ouvidas e examinadas 82 .000 pessoas, em sete Estados. O resultado é alarmante. Pelas informações colhidas, é possível dizer que 40% dos adultos brasileiros têm colesterol alto – um dos principais fatores de risco para a saúde do coração. No início dos anos 90, esse número era de 30%. O dado coloca o Brasil entre os piores do mundo. O quadro é mais feio até do que o americano. Nos Estados Unidos, onde praticamente se mastiga colesterol puro no café da manhã, almoço e jantar, 36% das pessoas têm colesterol acima do recomendável. "O levantamento reafirma a necessidade de uma campanha permanente contra esse inimigo silencioso, que causa a morte de milhares de brasileiros a cada ano", diz a cardiologista Tânia Martinez, do Instituto do Coração de São Paulo.

Um outro dado preocupante do levantamento é o índice de colesterol entre as mulheres. Elas, atualmente, representam mais da metade de todas as vítimas do mal. Conforme a idade avança, a situação torna-se ainda mais grave. Acima dos 55 anos, para cada homem com o problema há duas mulheres na mesma condição. Isso ocorre em boa parte porque, com a menopausa, elas perdem a proteção do hormônio estrógeno. Fabricada pelos ovários, a substância é uma grande aliada do coração, ao impedir o entupimento das artérias. Mas o grande vilão é mesmo o estilo de vida baseado em dietas ricas em gordura, sedentarismo e cigarro – um comportamento que, até duas décadas atrás, era predominantemente masculino. "A liberação feminina teve uma contrapartida negativa. Hoje, as mulheres são as principais vítimas das doenças coronárias", afirma Antonio Carlos Chagas Palandri, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.

O colesterol é um dos principais compostos do organismo. É essencial para a fabricação de hormônios e de vitamina D. Em excesso, porém, é um perigo. Há dois tipos de colesterol: LDL, o ruim, e HDL, o bom. Como o organismo não consegue processar grandes quantidades de LDL, o excedente tende a se depositar na parede dos vasos sanguíneos. Com o passar do tempo, esse acúmulo pode levar ao entupimento das artérias e provocar um infarto ou derrame. Uma das melhores armas contra o colesterol alto é fazer ginástica e manter uma dieta equilibrada. Com isso, é possível baixar drasticamente os níveis de colesterol. Há, no entanto, pacientes que têm de recorrer a medicamentos – entre eles, aquelas pessoas com um forte histórico familiar de colesterol alto, e que correspondem a cerca de 20% dos casos. Para elas, há as estatinas, drogas capazes de diminuir os níveis de LDL e de aumentar os de HDL.

 

Estado de alerta

40% da população brasileira adulta tem colesterol alto

Desse universo, mais da metade é composta de mulheres

Santos, no litoral paulista, é a cidade com a pior situação: 57% de seus habitantes têm colesterol alto

70% dos brasileiros apresentam um ou mais fatores de risco de doenças cardíacas. Os principais são colesterol alto, hereditariedade, tabagismo, diabetes e hipertensão

Fontes: Sociedade Brasileira de Cardiologia e laboratório Pfizer