Clique aqui se não estiver visualizando corretamente.

 

O QUE SIGNIFICA TRATAMENTO CLÍNICO OTIMIZADO?

A prática de exercícios físicos está consistentemente associada ao decréscimo da morbidade e mortalidade, sendo o exercício físico no contexto da Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica (RCPM) terapêutica obrigatória para a maioria dos pacientes estáveis com doenças cardiovasculares.1 Entretanto, no Brasil, os raros programas existentes se constituem em exceção à regra. Até mesmo para coronariopatas estáveis tem sido feita como regra a opção pelo tratamento intervencionista, proposta indefensável em termos de custo-efetividade. 2

Os três estudos apresentados a seguir reforçam a mensagem da necessidade de mudança do paradigma. O estudo COURAGE3, que teve como desfechos morte e infarto miocárdico não fatal, avaliou 2.300 pacientes isquêmicos, aleatoriamente distribuídos nos grupos tratamento farmacológico mais angioplastia e tratamento farmacológico isolado, demonstrando ausência de diferença de desfechos entre os grupos. Em seguida, a meta-análise de Stergiopoulos e Brown4 avaliou os efeitos de tratamentos com e sem angioplastias com stents sobre morte, infarto miocárdico não fatal, revascularização não planejada e angina persistente e, à semelhança do COURAGE, não constatou diferenças significativas de desfechos entre os grupos. Finalmente, neste início de 2018, foi publicado o estudo pioneiro de Rasha Al-Lamee5, avaliando angioplastia com stents em pacientes com doença coronária severa, que foram aleatoriamente distribuídos nos grupos submetidos ao tratamento intervencionista ou procedimento placebo (pacientes anestesiados e submetidos a uma simulação de angioplastia), demonstrando resultados semelhantes nos grupos quanto ao desempenho físico, tempo de surgimento de alteração do segmento ST e ocorrência de angina.

Nesses três estudos, à semelhança do que costuma ocorrer no mundo real, o tratamento clínico foi considerado otimizado apenas pelo enfoque farmacológico, não sendo visto também como critério obrigatório de inclusão a participação em programa estruturado de reabilitação, que proporcionaria de fato um tratamento clínico pleno, algo que nos remete a um dos grandes desafios do DERC, que consiste em contribuir para disseminar e implantar a proposta do verdadeiro tratamento clínico, que tem com base mudanças efetivas no estilo de vida, com destaque para a prática individualizada de exercícios físicos, no contexto da RCPM.



REFERÊNCIAS

1 Taylor RS, Brown A, Ebrahim S Jolliffe J, Noorani H, Rees K, et al. Exercise-based rehabilitation for patients with coronary heart disease: systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Am J Med 2004 15;116(10):682-92.
2 Carvalho T, Cortez AA, Ferraz A, Nóbrega ACL, Brunetto AF, Herdy AH, et al. Diretriz Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica: Aspectos Práticos e Responsabilidades. Arq Bras Cardiol 2006; 83 (5): 448-52.
3 Boden WE, O’Rourke RA, Teo KK, Hartigan PM, Maron DJ, Kostuk WJ, et al. Optimal medical therapy with or without PCI for stable coronary disease. N Engl J Med 2007; 356: 1503−16.
4 Stergiopoulos K; Brown DL. Initial Coronary Stent Implantation With Medical Therapy vs Medical Therapy Alone for Stable Coronary Artery Disease Meta-analysis of Randomized Controlled Trials. Arch Intern Med 2012;172(4):312-319.
5 Al-Lamee R, Thompson D, Dehbi HM, Sen S, Tang K, Davies J, et al. Percutaneous coronary intervention instable angina (ORBITA): a double-blind, randomised controlled trial. The Lancet 2018; 391


Tales de Carvalho



 

A edição do DERCNEWS corrente traz a discussão do treinamento intervalado de alta intensidade versus o moderado, um tema de grande discussão na literatura que no artigo comentado pela Dra. Hellen Valentim mostra a tendência a um melhor resultado com o treino intervalado.

Na sequência, comentamos dois artigos que nos trazem os conceitos fisiológicos de V̇O2 de pico versus V̇O2 máximo. Estudos que se confrontam em relação à aplicação clínica e prática desses conceitos. Como podemos perceber visões opostas se confrontando: intervalado versus moderado e V̇O2 de pico versus máximo. Porém, mais do que uma questão de certo ou errado, é o aprendizado pela reflexão das incertezas nos fazendo caminhar além das velhas fronteiras. Boa leitura a todos!

Mauro Augusto dos Santos

 
 

Treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) versus treinamento contínuo de moderada intensidade (MICT) na reabilitação cardíaca: uma revisão sistemática e meta-análise
High-intensity interval training versus moderate- intensity continuous training within cardiac rehabilitation: a systematic review and meta-analysis” - doi: 10.2147/OAJSM.S150596

Dra. Hellen Valentim Figueiredo

   
 

V̇O2 DE PICO VERSUS V̇O2 MÁXIMO: O POSSÍVEL VERSUS O DESEJÁVEL
Simon Green e Christopher Askew em artigo publicado em fevereiro de 2018, no Journal Applied Physiology: V̇O2 peak is an acceptable estimate of cardiorespiratory fitness but not V̇O2 max (https://doi.org/10.1152/japplphysiol.00850.2017) fazem um contraponto ao artigo publicado no mesmo jornal por David C. Poole e Andrew M. Jones: Measurement of the maximum oxygen uptake VO2 max: VO2 peak is no longer acceptable (https://doi.org/10.1152/japplphysiol.01063.2016).

Dr. Mauro Augusto dos Santos

   
 

dercnews@cardiol.br

msaugusto@terra.com.br

tales@cardiol.br

revistadoderc@cardiol.br

   
 

Envie suas sugestões para o DERC News: dercnews@cardiol.br