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Comunicado sobre a Hidroclorotiazida e câncer de pele

Recentemente, alguns estudos têm levantado dúvidas sobre a associação do uso de diurético hidroclorotiazida e o risco de carcinoma de pele. Em um deles, pesquisadores dinamarqueses avaliaram a prescrição de fármacos anti-hipertensivos em mais de 80.000 pacientes com câncer de pele não melanoma e compararam-nos a indivíduos controle. Pacientes que tomavam hidroclorotiazida diariamente por mais do que 6 anos apresentaram um risco 29% maior de desenvolver carcinoma basocelular e quase 4 vezes maior probabilidade de carcinoma espinocelular. Também observaram uma relação dose-resposta, geralmente com doses maiores ou iguais a 50 mg/dia. Outros estudos, também realizados na população dinamarquesa, mostraram que o uso de hidroclorotiazida pode aumentar o risco de câncer de lábio e alguns subtipos de melanoma. Tendo em vista a celeuma provocada por essas publicações, a diretoria do Departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Hipertensão gostaria de esclarecer esses achados e colocar sua opinião referente ao problema. A hidroclorotiazida é um diurético utilizado para o tratamento da hipertensão arterial há mais de 50 anos, tendo mostrado sua segurança ao longo desse tempo e contribuído acentuadamente para a redução de eventos e da mortalidade cardiovascular, que é a principal causa de óbito nas populações ocidentais. Atualmente, a dose mais frequentemente utilizada de hidroclorotiazida é de 25 mg/dia, chegando em poucos casos a 50 mg/dia. A dose de hidroclorotiazida que têm mostrado essa associação com câncer está acima de 50 mg/dia. Esses estudos também têm várias limitações que enfraquecem suas conclusões. Eles não foram desenhados para provar se ou como hidroclorotiazida poderia causar câncer e não pesquisaram dois principais fatores que influenciariam o risco de câncer de pele, ou seja, a exposição aos raios ultravioletas e o tipo de pele da população. Os estudos foram realizados em população europeia, predominantemente de cor branca, fato que per se predispõe ao aparecimento de câncer de pele e representa um diferencial para a população brasileira. A Diretoria do Departamento de Hipertensão Arterial recomenda que pacientes que estejam em uso de hidroclorotiazida não deveriam interromper o tratamento sem primeiro consultar seu médico. Por outro lado, pacientes que apresentarem um risco aumentado de câncer de pele, devido à elevada exposição ao sol ou já tenham desenvolvido câncer de pele, também deveriam consultar seu médico para melhor avaliação do tratamento anti-hipertensivo.

José Fernando Vilela Martin
Diretor Científico do DHA/SBC

Rui Póvoa
Presidente do DHA/SBC