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Retrospectiva no MoMA consagra obra do casal Hilla e Bernd Becher, que por 50 anos fotografou resquícios da modernização
Fonte: Jornal O GLOBO
Graça Magalhães-Ruether
Correspondente - BERLIM
No início as suas fotos eram consideradas “frias” e “secas” demais,
sendo recusadas como boas obras fotográficas. Mais tarde, as imagens
coletadas pela lente de Bernd e Hilla Becher, o casal de fotógrafos
mais famoso do mundo, passaram a ser vistas como obras de arte.
Depois expostas nos mais importantes museus da Europa e exibidas uma
vez na Bienal de São Paulo, em 1977, as fotos do casal compõem uma
retrospectiva no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, uma
forma de consagração um ano depois da morte de Bernd.
Os dois são desde os anos 50 uma simbiose. Um sempre acompanhava o
outro. Quando se falava em Bernd pensava-se automaticamente em Hilla
Becher, hoje com 73 anos. E, como unidade artística, transformaram
em peças de museus imagens de centrais industriais abandonadas,
moinhos, caixas d’água, torres industriais, fornos gigantes ou
gasômetros que são resquício de uma era passada. — O Bernd queria no
início ser desenhista.
Mas ele era tão perfeccionista que às vezes não havia acabado quando
o objeto que era modelo do seu trabalho era demolido. Então ele
começou a fotografar, para registrar quando ainda era possível —
disse Hilla ao GLOBO, pouco depois de voltar de Nova York, onde
acompanhou a primeira semana da exposição no MOMA. Os dois se
conheceram no fim dos anos 50, em Dusseldorf, onde Hilla estudava
fotografia. Bernd desenhava, pintava aquarelas e procurava ser quase
tão exato quanto a fotografia, enquanto Hilla queria na época ser
fotógrafa publicitária. Do encontro surgiu o casal artista e o
estilo inconfundível. Embora a paixão dos dois fosse a fotografia da
paisagem industrial condenada ao desaparecimento, Bernd aceitou o
convite para ser professor na Academia de Artes de Dusseldorf. Os
dois tornaramse amigos do alemão Joseph Beuys, que se destacou no
cenário artístico internacional após a Segunda Guerra.
Compreensão do objeto; depois, a foto
Ao longo das décadas, também os alunos de Bernd tornaram-se famosos.
Andreas Gursky é um dos que têm as obras mais bem cotadas no mercado
das artes. Mas o trabalho na academia tinha o objetivo principal de
financiar a obra dos dois. — No início, era muito difícil conseguir
financiar o trabalho de observação intensa e estudo das paisagens
que depois fotografávamos — lembra Hilla. O segredo da obra dos dois
é que as fotos são como um estudo do objeto, não apenas um registro
casual.
— Nunca fizemos simplesmente as fotos dos objetos. Precisávamos
sempre aprender antes muito sobre eles. Também todo botânico, todo
biólogo, precisa conhecer como são os animais ou as plantas que
estudam. Nós nos baseamos nos mesmos principios. Só depois de
compreender o que está por trás de um gasômetro ou de uma fábrica
vazia é que decidíamos fotografá-los — explica a artista. No ano
passado, quando Bernd adoeceu e precisou ser operado na cidade de
Rostock, o projeto da exposição em Nova York era motivo de grande
entusiasmo dos dois. A cirurgia foi feita no dia 22 de junho. Tudo
parecia ter dado certo. Ainda hoje, Hilla não consegue compreender o
que aconteceu, se foi erro médico ou uma fatalidade — a intervenção
acabou provocando uma hemorragia interna.
Hoje, um ano depois da morte do parceiro de vida e da arte, Hilla
ainda não consegue registrar a informação: —Quando sonho, converso
com ele e mal consigo acreditar na realidade quando acordo. Mas,
sabe, eu não acho que ele foi embora. Acho que continua aqui comigo,
e por isso raramente visito o cemitério. Assim mesmo, a vida
continua. Assim que conseguir reunir as forças necessárias, a
artista parte para a Inglaterra, para fotografar os gasômetros
ameaçados de desaparecer, que, segundo ela, são os mais belos do
mundo.
— Preciso fotografá-los enquanto ainda existem — diz. |
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