Construção de novo teatro em SP deve demorar alguns anos, diz arquiteto
Fonte: G1
Patrícia Araújo
Do G1, em São Paulo
Demora se deve às etapas de
criação do projeto, captação de
recursos e início da obras.
“Herdeiro” de criador do Cultura
Artística diz que novo teatro
precisará ser modernizado.
Sócio
proprietário do escritório Paulo
Bruna Arquitetos Associados,
responsável pelas últimas obras de
manutenção do Teatro Cultura
Artística, o arquiteto Paulo Bruna,
de 67 anos, disse nesta
segunda-feira (18) à reportagem do
G1 que acredita que a recuperação do
prédio inaugurado em 1950 deve
demorar alguns anos. “Tem o projeto,
a captação de recurso e a obra. Por
isso digo alguns anos”, afirmou.
Veja imagens do incêndio
O Teatro Cultura Artística, na
região central de São Paulo, foi
atingido por um incêndio na
madrugada deste domingo (17). Cerca
de 300 mil litros de água foram
usados para combater o incêndio que
consumiu 5 mil metros quadrados do
espaço. As chamas começaram por
volta das 5h30. "O que sobrou foi
somente a fachada do prédio", disse
o agente da Defesa Civil Municipal
Luís do Nascimento Pereira. Em uma
avaliação preliminar, não foi
apontado risco de desabamento do
painel de azulejos de Di Cavalcanti
que está na parede frontal da
construção.
Paulo Bruna trabalhou quando
estudante com Rino Levi, criador do
projeto arquitetônico do Teatro
Cultura Artística ao lado de Roberto
Cerqueira César. Depois de se formar
ele foi morar alguns anos na
Inglaterra e, quando voltou, ficou
sócio e foi diretor do escritório
Rino Levi, após a morte dele, por
cerca de 20 anos. Ao final desse
período, com o encerramento das
atividades do escritório de Rino
Levi, ele criou, em sociedade com
Cerqueira César, o Paulo Bruna
Arquitetos e Associados.
Reforma
Estudo
de projeto para reforma do Teatro
Cultura Artística feito pelo
ecritório Paulo Bruna Arquitetos
Associados (Foto: Divulgação)
Considerado pela própria Sociedade
de Cultura Artística como “herdeiro”
de Rino Levi, Bruna disse também
que, já que o teatro será
reconstruído, o ideal é que seja
pensado com modernizações. Algumas
dessas adaptações inclusive já
haviam sido planejadas em um estudo
feito pelo escritório dele há cerca
de cinco anos. “Fizemos um estudo
preliminar que visava ampliar a área
de público e de apoio. O que se
desejava era ampliar os camarins, o
foyer, o bar”, disse, acrescentando
que, apesar do estudo ter sido
feito, não havia previsão para o
início dessas obras. No estudo
estava incluída ainda a incorporação
de um edifício lateral de apoio
contendo setores de ensino,
biblioteca para diversas mídias e
áreas para patrocinadores.
Para Bruna, apesar de “lamentar
profundamente” o que ocorreu, o
incêndio é uma oportunidade de
pensar em como atualizar a estrutura
do Cultura Artística. Detentor dos
desenhos arquitetônicos originais do
prédio, ele defende a mudança. “Se
você tem que mexer, refazer,
aproveita para modernizá-lo,
atualizá-lo. Não há razão para pegar
os desenhos antigos e só
reproduzir.”
A modernização, aliás, é defendida
pela Sociedade Cultura Artística.
“Já que tivemos esse acidente, a
gente tem que realmente utilizar
essa crise e construir um teatro
como o Cultura merece. Adaptado às
nossas necessidades atuais.
Gostaríamos muito de construir com
feições mais modernas,
características mais adequadas”,
disse o relações institucionais da
sociedade, Eric Klug. Ele informou
ainda que não sabe se o teatro será
reconstruído no local atual.
Para Klug, o período até a
construção do novo teatro vai deixar
uma “imensa lacuna” na capacidade de
consumo artística “que não vai ser
satisfeita” por um bom tempo.
Prejuízos
Embora ainda não consiga estimar o
valor total do prejuízo causado pelo
incêndio e nem o valor exato da
apólice do seguro do teatro – que
estava dentro do prédio que pegou
fogo, Klug disse que o dinheiro do
seguro não será suficiente para
cobrir as despesas com a
reconstrução do Cultura Artística.
Segundo ele, o valor do seguro gira
em torno de R$ 5 milhões, o que não
seria suficiente para as despesas de
reconstrução.
Ente os prejuízos já identificados
com o incêndio, está um piano
“Steinway D”, de procedência alemã.
O instrumento foi uma doação e
estava avaliado em cem mil euros.
“Esse piano é da única marca aceita
pela maioria dos pianistas eruditos.
Tínhamos dois dele lá, mas o outro
era mais antigo. Havia sido
adquirido há cerca de 20 anos e, por
isso, é difícil precisar o valor
dele”, disse.
Tradição O
Teatro Cultura Artística foi
construído entre os anos de 1947 e
1950. O prédio, tombado pelo
Patrimônio Histórico Estadual, foi
projetado pelos arquitetos Rino
Levi, Roberto Cerqueira César e F.ª
Pestalozzi. Na fachada da construção
está o maior afresco feito pelo
artista plástico brasileiro Di
Cavalcanti. A obra possui 48 metros
de largura por oito de altura e é
feita em mosaico de vidro.
Entre os atores que já se
apresentaram no local estão: Paulo
Autran, Tonia Carrero, Cacilda
Becker, Jardel Filho, Sérgio
Cardoso, Procópio, Bibi Ferreira,
Walmor Chagas, Odete Lara, Dercy
Gonçalves, Irina Greco, Armando
Bogus, Maria Della Costa, Antonio
Fagundes, Marco Nanini, Fernanda
Montenegro, Marília Pera, Karin
Rodrigues, Ney Latorraca, Aracy
Balabanian, Jô Soares, Eva Wilma,
Carlos Zara, Beatriz Segall, Juca de
Oliveira, Denise Fraga, Marieta
Severo, Regina Duarte, Debora Bloch,
Ary Fontoura, Andrea Beltrão, Denise
Stoklos, Renata Sorrah, Diogo Vilela
e Fernanda Torres.