As
últimas 15 folhas virgens de fórmica
padrão pau-ferro, popular nos anos
60, estão no ateliê de Daniel
Acosta. Filho de marceneiro, o
artista gaúcho usa essas lâminas que
imitam madeira em quase todas as
obras que faz, agora com uma vontade
figurativa.
Estampam os mosaicos de fórmica que
expõe na Casa Triângulo, em São
Paulo, um leão, um tigre, um
elefante e uma onça --todos copiados
de um guarda-sol de um parente que
partiu do Rio Grande do Sul em pleno
inverno, com o adereço praiano
debaixo do braço, para que Acosta
pudesse fotografar os bichos aqui.
"São pequenas naturezas que eu trago
para dentro da cidade", afirma
Acosta. "Eu faço uma ironia com a
idéia de ligar e encomendar uma
paisagem portátil por telefone."
Quem viu a última individual de Lia
Chaia na galeria Vermelho talvez
tenha a sensação de déjà vu ao ver
essas obras. Lá, com fotografia, a
artista também questiona a relação
do homem com uma natureza
domesticada.
"A gente é muito amigo, temos uma
sintonia forte", reconhece Acosta.
Mas os bichos de seu guarda-sol,
depois de fotografados, são
projetados na fórmica recortada a
laser e formam um mosaico, em que
cada detalhe corresponde a uma
mancha de cor diferente. É um
processo semelhante ao da cópia do
desenho da embalagem de um bombom em
"Burningscape", de 2004.
No entanto, agora, ao contrário da
abstração de obras anteriores, são
bichos reconhecíveis, numa montagem
de cores que remetem à natureza
codificada pela experiência da
cidade -as cores artificiais têm
nomes do tipo azul lago, verde
bosque.
"No lugar da madeira, que tem
cheiro, poros e insetos, é resina
artificial", conta Acosta. Por isso,
chama atenção o que mais se
distancia da experiência urbana: o
leão selvagem na pose clássica que
adota em desenhos infantis e
embalagens.
Seria como o leão arquetípico da
obra de René Magritte, o artista
que, além de muitos leões, pintou um
cachimbo e escreveu embaixo: "Isto
não é um cachimbo".
Outra mostra
Valdirlei Dias Nunes, outro artista
em cartaz na Casa Triângulo, também
pensou em Magritte. No andar de
cima, ele expõe o que parece ser uma
caixa de madeira, mas não é. São
chapas de compensado pintados com um
padrão que imita madeira, em um
esforço representativo e nada
formalista.
Daniel Acosta e Valdirlei
Dias Nunes
Quando:
de ter. a sáb., das 11h às 19h; até
6/9
Onde:
Casa Triângulo (r. Paes de Araújo,
77, São Paulo; tel.
0/xx/11/3167-5621; livre)
Quanto:
entrada franca